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domingo, 26 de março de 2006

 

Saudação ao Porteiro do Sol ("Porteiro do Inferno")

Saudação ao "Porteiro do Sol"
Uma escultura que situa-se entre o trágico e o épico
A discussão sobre a escultura do artista plástico paraibano Jackson Ribeiro, que a ironia e o sarcasmo do cronista Virginius da Gama e Melo batizaram de "Porteiro do Inferno", e que uma geração mais atenta à importância da obra denomina de "Porteiro do Sol", estabelece: espaço para discussão sobre a expressividade da arte paraibana; o lugar que a arte paraibana ocupa entre os destaques do século XX; o nível de percepção e compreensão que a escultura de Jackson, enquanto expressão da nossa arte, propõe; o diálogo que o "Porteiro do Sol" propicia com os múltiplos repertórios culturais dos estratos populacionais em fluxos relacionais contínuos. A escultura precisa voltar à praça pública. A Prefeitura já anunciou que isto acontecerá.
A arte no século XX assume a condição de uma provocativa revolução da maneira de transmitir visualmente novos códigos que produzem sentidos inovadores. A escultura de Jackson, "Porteiro do Sol", é síntese perfeita das revoluções do século XX.
A feridas pintadas com sangue de Guernica. A potência do ferro abraçando jardins.
O ano de 1905 é quando Pablo Picasso inicia a pintura das Moças de Avignon, arrebentando qualquer amarra do classicismo insultado pelo impressionismo, mesmo ano em que Einstein anuncia ao mundo a invenção da Teoria da Relatividade.
A arte e ciência convergem compondo um novo modelo mental, novas rotas perceptivas e criativas, abrigando a arte no seu "discurso representacional" um mundo formidável em que a indústria multiplica ao infinito a possibilidade da reprodução seriada transformando as cidades em metrópoles com nervos de aço e músculos elétricos respirando o barulho dos motores que não cessa e mastigando para sempre a consciência perplexa de nova gente em novíssimo mundo novo.
O cubismo abre a porteira para o balé enigmático do abstracionismo.
A arte abstrata, aquela em que a figura está sempre de fora produzindo o estrondoso silêncio da forma pura, tem uma poética específica, entre o divino ideal e o vazio ativo da consciência com desejo de memória.
A poética do abstracionismo é a excitação da técnica elevada ao nível da paixão. Funciona enquanto produtora de sentidos para a observação do mundo em profundidade além do onírico, aquém do pesadelo.
Em praça pública
"O Porteiro do Sol", de Jackson Ribeiro, deve urgentemente voltar à praça pública, por representar a genial genealogia do abstracionismo artístico, sendo, ao mesmo tempo um panfleto em matéria sólida provocando a consciência do ser social a pensar mais sobre o mesmo. A técnica composicional de Jackson, no "Porteiro do Sol", expressa a mesma beleza estridente encontrável na arte de Bosh, William Blake e Augusto dos Anjos que escreveu imagens com a imponência das catedrais e o horror do recheio de uma tumba.
O "Porteiro" situa-se entre o trágico e o épico. Profetiza uma anatomia performática. Sua estrutura de comunicação, na instância do representacional, é eixo vertical mimetizando a postura clássica da civilização.
A forma (conteúdo, design, suporte) abstrata ironiza uma idéia de homem; o caráter simbólico é o enlace do mítico (o totem clama por voz) com o escultórico mais arquitetura, o ferro o caos, força, potência mais solidez expectante.
Olhar do Ocidente
A estratégia da comunicação que a provocativa (provoca hoje discussões radiofônicas, acadêmicas, populares) escultura realiza é a de evidenciar o contraste e o estranhamento, a técnica construtiva e o absoluto efetivado.
Há no "Porteiro do Sol" uma iconologia evidente de todo o século XX e também uma iconografia. As imagens de esculturas que pesquisamos para estabelecer a genealogia da obra de Jackson dizem porque o paraibano é um mestre poeta, artista a serviço da expansão da consciência e de um novo patamar crítico para o olhar do Ocidente.
A escultura orgulha a inteligência, a sensibilidade, e o espírito vanguardista da Paraíba de Antonio Dias, Inez Mariz, Raul Córdula, Unhandeijara Lisboa, Martinho Patrício e José Rufino entre tantos outros criadores e criadoras universais. (Walter Galvão do Correio da Paraíba)

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