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sábado, 15 de outubro de 2005

 

Paizzianotto:Aos bandidos tudo; ao cidadão nada

Almir Pazzianotto Pinto>>Em vez de empreender medidas fortes voltadas para a redução da violência, o >governo federal desencadeia campanha destinada a retirar armas de fogo que >se encontram em poder de pessoas de bem. O referendo do próximo dia 23 >tenta inverter os valores morais da sociedade brasileira. Aos bandidos, >tudo; ao cidadão que paga impostos, nada.>>Explico-me. O que provoca temor-pânico na sociedade não é a propriedade de >arma de calibre reduzido, por mínima porcentagem da população, mas, sim, a >onda de insegurança e de crueldade que assola famílias bem constituídas de >todas as camadas sociais.>>São exemplos da carnificina que nos amedronta e apavora os casos da família >morta a tiros e golpes de enxada, por facínoras, para roubarem alguns mil >dólares, economizados durante anos de sacrifícios no Japão; do menino >seqüestrado, amarrado e jogado em represa para morrer afogado; de >criminosos, em regime de reclusão, degolados em brigas de quadrilhas, >dentro da penitenciária; do vigilante escolar abatido no estabelecimento de >ensino em que trabalhava; do fazendeiro gravemente ferido ao reagir a >tentativa de assalto, no interior da sua propriedade; de delegado e >investigadores espancados por prisioneiros, em fuga de distrito policial; >da população de pequeno município do Pará que, revoltada com a onda de >estupros, e a ausência de providências do Estado, depreda e põe fogo em >prédios e veículos públicos; dos conflitos entre torcidas, dentro e fora >dos estádios.>>Afora crimes como esses, escolhidos aleatoriamente nas notícias da >imprensa, inúmeros casos de crueldade se estão repetindo, e não despertam a >atenção, porque passaram a fazer parte do cotidiano. Por outro lado, dando >divulgação à violência, jornais publicam, emissoras de rádio noticiam, >televisões, abertas e a cabo, transmitem novelas, minisséries, filmes e >reportagens que têm como enredo homicídios, traições, estelionatos, >adultérios, arbitrariedades e truculências, passando uma imagem de >sociedade decadente e corrompida. Há, até, o "rei do videogame sangrento", >como publicou o Estado, no caderno Link de 24 de setembro.>>Morre-se mais em acidentes de trânsito do que por assassinato. A ninguém, >todavia, ocorre proibir a venda de veículos.>>Desde épocas remotas, para se proteger contra múltiplas formas de >hostilidades e ataques, o ser humano aprendeu a construir abrigos, levantar >paredes, abrir fossos e a se munir de algum instrumento de defesa. Da pedra >ao porrete, à lança, ao escudo, ao arco e flecha, aos machados, espadas, >até inventar a pólvora e as armas de fogo.>>A velha garrucha, de um ou dois canos, está entre os mais antigos desses >artefatos, e pode ser fabricada em oficinas de fundo de quintal. Na Guerra >de Canudos, descrita por Euclides da Cunha em Os Sertões, tropas do >Exército, equipadas com canhões Krupp, metralhadoras Nordenfeldt, fuzis >Comblain e Manlicher, foram batidas por esfarrapados jagunços de Antonio >Conselheiro, munidos de bacamartes, clavinotes, lazarinas, punhais e facas. >Artefatos rudimentares como esses sobrevivem em nossos dias, e podem servir >a intentos criminosos, independentemente de aquisição registrada e >controlada. Veja-se a notícia publicada nos jornais de São Paulo: "Trio é >preso e confessa assassinato de taxista." Foram usadas duas armas de fogo >de fabricação caseira, apreendidas pela polícia.>>Até o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admite que a campanha será >inócua contra os marginais. Não conseguirá, também, acabar com furtos e >desvios de armamentos em quartéis e arsenais. Os delinqüentes encontrarão >caminhos internos e externos para adquirir pistolas, granadas, >metralhadoras. O contrabando continuará a ser utilizado para equipar o >crime organizado, e fornecer a artilharia pesada de que se valem, nos >morros do Rio de Janeiro, quadrilhas de narcotraficantes.>>Registre-se, ademais, que aos empresários de alto poder aquisitivo pouco >importa o referendo. Eles se protegem com veículos blindados, construindo >"bunkers", contratando empresas de segurança.>>A iniciativa do governo tem cunho populista-demagógico. Destina-se a >distrair a atenção de graves problemas de natureza socioeconômica, e fazer >crer, às pessoas mal informadas, que está preocupado com a vida, a >integridade física e o patrimônio de cada cidadão.>>Quem viver verá. Após o referendo, qualquer que seja o resultado, a >violência continuará presente em nosso meio, ferindo e matando inocentes, >já que as raízes do problema são outras. Não se localizam na compra de >revólver, de calibre permitido, para defesa pessoal e da família.>>Aponto, afinal, como ridículo o argumento dos defensores do "sim", quando >aludem a crianças vítimas de disparos acidentais, dentro das próprias >residências. Neste país, onde o poder público se tem revelado incapaz de >resolver a tragédia da infância abandonada e carente, que cheira cola, usa >drogas, perambula pelas grandes cidades, mofa na Fundação Estadual do >Bem-Estar do Menor (Febem), ou definha em condições subumanas no campo, é >hipocrisia apresentar casos isolados como estandartes de campanha política.>>Filiado à corrente que dirá "não", recordo, àqueles que praticam a fé >cristã, a palavra sagrada da Bíblia: "Quando um homem valente e bem armado >guarda a própria casa, tudo o que ele tem está seguro" (Lucas, 11:21).>>>Almir Pazzianotto Pinto é advogado, ex-ministro do Trabalho e ex-presidente >do Tribunal Superior do Trabalho (TST), aposentado

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