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sábado, 27 de agosto de 2005

 

A INDIGNAÇÃO DE FREI BETTO

A confissão não poderia ser mais procedente. Mais do que isso, genuina. Trata-se de um relato melancólico de Frei Betto, um intelectual de fama mundial, de inquestionável firmeza de caráter, ideológicamente indentificado com a esquerda internacional. No Brasil ele se notabilizou por ser "construtor do PT " e amigo do peito do Presidente Lula. Leia o artigo abaixo, como se estivesse ouvindo o próprio Frei Betto se pronunciar para José Dirceu, José Genuíno, Delúbio Soares e o próprio Presidente Lula, diante dos quadros mais importantes do PT e dos integrantes das três CPI's: "Mensalão, Correios e Comissão de Ética" e, não afaste o pensamento de que ainda, está sendo transmitido ao vivo, para todo país. Depois da leitura faça uma reflexão e sinta se é possível acreditar que o PT se reabilitará; que José Dirceu não perderá o mandato; que José Genuino, seus compassas e os Deputados envolvidos não sofrerão punições; que Lula não sofrerá impeachment e se os políticos portadores de mandatos eletivos, coniventes ou indiferentes a essa crise se reelegerão para um novo mandato.

E AGORA JOSÉ?
Esta de Frei Betto é arrazadora. Para ele "a festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição: não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vítima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege por um programa de mudanças e adota uma política econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados. A esquerda deu um tiro no pé na União Soviética, esfacelada sem que a Casa Branca lhe atirasse um único míssil. Faliu por conta da nomenklatura, das mordomias abusivas das autoridades, da arrogância do partido único, da corrupção. Assim foi na Nicarágua, onde líderes sandinistas se locupletaram com imóveis expropriados pela revolução e enriqueceram como por milagre. Agora, José, é a nossa confiança no PT que se vê abalada. O que há de verdade e mentira em tudo isso? Por que o partido não abre sua contabilidade na Internet? Se houve mensalões e malas de dinheiro, como ficam os pobres militantes e simpatizantes que, nas campanhas eleitorais, contribuíam com sacrifício do próprio bolso? Finda as investigações, o PT precisará vir a público e, de cabeça erguida, demonstrar que tudo não passou de "denuncismo", de"golpismo", de armação (ia escrever "dos inimigos") dos aliados... Ou, de cabeça baixa, em atitude humilde, reconhecer que houve sim malversação, improbidade, tráfico de influência e corrupção. O mais grave, José, é o desencanto que toda essa "tsulama" provoca na opinião pública, sobretudo nos mais jovens. Quando admitimos que "todos os partidos são farinha do mesmo saco", fazemos o jogo dos corruptos, pois quem tem nojo de política é governado por quem não tem. Se todos se enojarem, será o fim da democracia e da esperança de que no futuro predomine a política regida por fortes parâmetros éticos. Portanto, o desafio, hoje, não é apenas promover reformas estruturais no país, é reformar a própria política, de modo a vedar os buracos pelos quais a corrupção e o nepotismo se infiltram. Temo que por muitas cabeças passe a idéia de, nas eleições de 2006, anular o voto ou votar em branco. Seria um desastre. O voto é uma arma pacífica. Deve ser usada com acuidade e sabedoria. Em todo esse processo é preciso destacar os políticos que primam pela ética, pela coerência de princípios, pela visão de um novo Brasil, sem alarmantes desigualdades sociais. Antonio Callado, em sua última entrevista, por sinal à Folha, disse que perdera "todas as batalhas". Também experimentei, José, muitas perdas: a morte do Che, a derrota da guerrilha urbana contra a ditadura militar, a queda do Muro de Berlim e, agora, essa fratura no corpo do partido que ajudei a construir como simpatizante, e que se gabava de primar pela ética na política. No entanto, quantas vitórias! Sobre a França e os EUA no Vietnã; sobre os EUA e a ditadura de Batista em Cuba; a de Martin Luther King contra o racismo americano; de Nelson Mandela contra o apartheid na África do Sul. No Brasil, a extensa rede de movimentos populares, as Comunidades Eclesiais de Base, a CUT, o MST, a CPT, a CMP, a CMS; os movimentos de direitos humanos, mulheres, negros, indígenas; as ONGs, as empresas cônscias de sua responsabilidade social. E, sobretudo, a eleição de Lula à residência da República. Não se pode jogar no lixo da história todo esse patrimônio social e político. Sem confundir pessoas com instituições, maracutaias com projetos estratégicos, é hora de começar de novo, renovar a esperança e, sobretudo, não permitir que tudo fique como dantes no quartel de Abrantes. Aprendamos com Gandhi a fazer, hoje, a partir de nossa práticas pessoais e sociais, o mundo novo que sonhamos legar às gerações futuras. Deixemos ressoar no coração as palavras de Mario Quintana: "Se as coisas são inatingíveis... ora!/ Não é motivo para não querê-las.../ Que tristes os caminhos, se não fora/ A mágica presença das estrelas!"Frei Betto é escritor, autor de "Treze contos diabólicos e um angélico" (Planeta), entre outros livros.

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